MANIFESTO DE JARDINAGEM LIBERTÁRIA
A Jardinagem Libertária não é um movimento. É uma idéia. Eu não sei de onde veio essa idéia, mas me parece que ela estava no ar, no subconsciente coletivo. É uma idéia de várias pessoas e ao mesmo tempo, não é de ninguém. Para alguns é uma idéia contagiosa, divertida e fértil, como se tivesse vida própria. Para outros é irresponsável, um desrespeito à propriedade e à admnistração pública. Uma coisa eu sei. Pode não parecer, mas a Jardinagem Libertária é uma idéia perigosa. E é assim por que ela nos faz olhar o mundo à nossa volta como sendo nosso. Por muito tempo nós deixamos o controle das nossas cidades, das florestase do mundo como um todo às autoridades. E o que aconteceu? Nas últimas décadas temos assistido enquanto o mercado imobiliário transforma nossas cidades em puleiros claustrofóbicos de concreto. Enquanto indústrias poluem nossos rios e mares. Enquanto as árvores, parques, calçadas, praças e espaços de convivência comunitária em geral são cobertos por asfalto para beneficiar o transito barulhento de máquinas particulares. Esse não é o mundo no qual nós queremos viver, e nós estamos aqui para dizer aos donos do poder e aos donos do dinheiro que o mundo não é deles. As ruas são nossas! E nós vamos retomar o controle sobre elas! Nós vamos quebrar o concreto impermeável para deixar a Terra respirar. Nós vamos plantar árvores frutíferas para alimentar os pássaros e as crianças. Vamos plantar flores para as velhinhas e os amantes. Vamos convocar a vizinhança e criar uma horta comunitária para recobrar nossa autonomia alimentar e, quem sabe, nunca mais ver alguém passar fome por não ter dinheiro. Nós vamos reconstruir as cidades para que elas sirvam às necessidades que quem vive nelas. E não vamos pedir autorização para ninguém.
http://jardinagemlibertaria.wordpress.com/
ENTREVISTA DO COLETIVO LIBERTÁRIO OUTUBRO VERDE
A jardinagem libertária não se restringe a plantar nas ruas, certo? O que é além disso?
Certo, no nosso caso procuramos transformar um local abandonado em uma futura horta comunitária. Plantamos tomates nas ruínas do que um dia foi o segundo andar de uma casa, e removemos sobras de concreto para fazer canteiros na terra. Tivemos bastante trabalho recolhendo todo o lixo que acumulou onde, durante muito tempo, era uma área com atividades ilícitas. Ainda estamos nos erguendo lentamente como as mudinhas que plantamos, mas esperamos que um dia nossa horta desperte o interesse em um modo de vida diferente.
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Vocês só plantam árvores frutíferas? A idéia é que essas árvores sirvam para quê?
Isso não é necessariamente verdade. Estamos plantando todo tipo de plantas... Desde pés de tomate até flores. No local que encontramos, já havia algumas árvores frutíferas, sendo a grande maioria de pés de goiaba, e por isso começamos a chamar o lugar de s Goiabeiras. Nós vamos continuar o cuidado para que essas árvores continuem crescendo, mas nos concentramos também nas hortas. Esperamos um dia poder literalmente colher os frutos, e organizar refeições gratuitas pra quem se interessar, principalmente pessoas que estão à margem.
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O dinheiro para comprar mudas sai do bolso de vocês? Ou vocês conseguem mudas de alguma organização? Tem algum tipo de ajuda financeira?
As mudas foram pagas por nós mesmos. Nós acreditamos em idéias como Faça Você Mesmo, e por isso não temos o interesse de procurar ajuda de nenhum tipo fora do nosso coletivo e círculo de amizades. Até agora gastamos pouquíssimo – praticamente nada – na nossa empreitada. Procuramos reaproveitar e reciclar tudo o que é possível. Tanto na hora de plantar, quanto construir. Estamos planejando fazer um sistema de captação de água da chuva com garrafas pet, já que o terreno não tem água nem luz. Além disso, sabemos que o dia que precisarmos de ajuda financeira, nós mesmos podemos organizar um show beneficente de hardcore para levantar fundos. Nós experimentamos fazer nós mesmos, desde música, até plantar comida. Nem sempre conseguimos, mas isso não é motivo suficiente pra desistir.
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Vocês vão ao local em que a árvore será plantada como? Que meio de transporte usam? Isso tem a ver com a idéia do movimento?
Na maior parte das vezes usamos bicicleta ou os nossos próprios pés. Quando é necessário carregar uma quantidade muito grande de ferramentas, ou mesmo muitas mudas de uma vez, pegamos um carro emprestado. Com certeza tem a ver com nossas idéias. Somos ciclistas, e nossa visão de mundo não se limita a jardinagem libertária. Temos envolvimento com várias causas, inclusive participando de Bicicletadas em nossas cidades. Carros são apenas recursos de última instância.
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Alguma vez já foram repreendidos por estar plantando uma árvore num espaço público?
Já fomos repreendidos por andar de skate, por estar na rua depois de escurecer, por tocar música alta, por sermos veganos, por não beber álcool e não usar drogas, por não termos religião, por entrar em propriedades abandonadas, mas esse motivo ainda não entrou para a lista.
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Por que na rua e não no jardim de casa?
Porque não queremos construir nada proprietário. Porque acreditamos em uma cultura livre, e sem sombra de dúvida somos fãs da liberdade. Quanto se planta uma árvore frutífera na rua, você está oferecendo comida de graça para qualquer pessoa. Quando se usa uma área enorme para construir um supermercado, você obriga as pessoas a pagar o que poderia estar sendo produzido coletivamente, e ainda reforça a idéia de que não é possível fazer nada acontecer sem dinheiro.
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Quem participa? Qual o perfil dos participantes?
No Outubro Verde, nosso coletivo, jovens que além de uma visão diferente de mundo, procuram agir de forma crítica, por que estar ciente dos problemas é só o primeiro passo. As ações individuais contam muito no panorama mundial, e por isso assumimos algumas posturas políticas, como o vegetarianismo, a sobriedade, o boicote a grandes corporações, e nos organizamos horizontalmente, de forma apartidária. Baseamos nossas idéias na igualdade e liberdade dos indivíduos.
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Qual a importância de movimentos como o "jardinagem libertária" para a retomada do espaço público pelos cidadãos?
A importância é fundamental. Mas não existe o “jardinagem libertária”, porque não temos liderança, não existe uma agenda a seguir... Não tem carteirinha de sócio. O que existe é a idéia de jardinagem libertária. Um conceito que pode ser adotado por qualquer um, em qualquer lugar, sem pedir licença, sem prestar crédito a ninguém. Frequentemente idéias como essa são veiculadas a movimentos, porque as pessoas ainda não descobriram outras formas de se organizar.Interagir com o meio que se vive – principalmente em grandes centros urbanos – é de extrema importância para se reivindicar outras formas de agir e pensar. O espaço público e o privado se confundem na paranóia da insegurança urbana, e a jardinagem libertária é apenas uma forma de questionar essa relação.
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Movimentos como esse podem reforçar os conceitos de cidadania e de ecologia entre as pessoas?
De que forma?
A publicidade já percebeu que desastres ecológicos são rentáveis, e a única forma de agir que a maioria das pessoas conhece é escolhendo os produtos que compra. A jardinagem libertária é uma tentativa de restabelecer um equilíbrio perdido durante o crescimento urbano. Mesmo esse impacto sendo grande demais, estamos tentando restaurar o contato social e ecológico que perdemos diariamente com um estilo de vida individualista e consumista. Desde a nossa infância somos instruídos e recompensados por ter um comportamento competitivo, e esta é uma atividade que requer uma ação conjunta para ter êxito.
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Esse mesmo movimento existe em outros países? Quais? A linha que se segue é a mesma?
Essa é uma idéia que sempre existiu ao redor de todo o mundo. A muito tempo surgiu uma técnica que foi re-introduzida por Masanobu Fukuoka, conhecida como “bomba de sementes”, que consiste em misturar terra fértil, argila e diversas sementes, em várias pequenas bolas que podem facilmente ser dispersadas em áreas pobres em vegetação. Não importa se hoje a chamamos de jardinagem libertária, guerrilha verde, ou qualquer outro nome, sempre que alguém plantar uma árvore ao invés de pavimentar o chão estará agindo sob os preceitos da jardinagem libertária.
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*Essas respostas são visões particulares do coletivo Outubro Verde. Não necessariamente condizem com o pensamento de outros grupos de Jardinagem Libertária do Brasil e do mundo. Nós do coletivo preferimos nos manter anônimos. Agimos na cidade de Blumenau. Para entrar em contato conosco escreva para coletivooutubroverde@gmail.com.
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A Jardinagem Libertária não é um movimento. É uma idéia. Eu não sei de onde veio essa idéia, mas me parece que ela estava no ar, no subconsciente coletivo. É uma idéia de várias pessoas e ao mesmo tempo, não é de ninguém. Para alguns é uma idéia contagiosa, divertida e fértil, como se tivesse vida própria. Para outros é irresponsável, um desrespeito à propriedade e à admnistração pública. Uma coisa eu sei. Pode não parecer, mas a Jardinagem Libertária é uma idéia perigosa. E é assim por que ela nos faz olhar o mundo à nossa volta como sendo nosso. Por muito tempo nós deixamos o controle das nossas cidades, das florestase do mundo como um todo às autoridades. E o que aconteceu? Nas últimas décadas temos assistido enquanto o mercado imobiliário transforma nossas cidades em puleiros claustrofóbicos de concreto. Enquanto indústrias poluem nossos rios e mares. Enquanto as árvores, parques, calçadas, praças e espaços de convivência comunitária em geral são cobertos por asfalto para beneficiar o transito barulhento de máquinas particulares. Esse não é o mundo no qual nós queremos viver, e nós estamos aqui para dizer aos donos do poder e aos donos do dinheiro que o mundo não é deles. As ruas são nossas! E nós vamos retomar o controle sobre elas! Nós vamos quebrar o concreto impermeável para deixar a Terra respirar. Nós vamos plantar árvores frutíferas para alimentar os pássaros e as crianças. Vamos plantar flores para as velhinhas e os amantes. Vamos convocar a vizinhança e criar uma horta comunitária para recobrar nossa autonomia alimentar e, quem sabe, nunca mais ver alguém passar fome por não ter dinheiro. Nós vamos reconstruir as cidades para que elas sirvam às necessidades que quem vive nelas. E não vamos pedir autorização para ninguém.
http://jardinagemlibertaria.wordpress.com/
ENTREVISTA DO COLETIVO LIBERTÁRIO OUTUBRO VERDE
A jardinagem libertária não se restringe a plantar nas ruas, certo? O que é além disso?
Certo, no nosso caso procuramos transformar um local abandonado em uma futura horta comunitária. Plantamos tomates nas ruínas do que um dia foi o segundo andar de uma casa, e removemos sobras de concreto para fazer canteiros na terra. Tivemos bastante trabalho recolhendo todo o lixo que acumulou onde, durante muito tempo, era uma área com atividades ilícitas. Ainda estamos nos erguendo lentamente como as mudinhas que plantamos, mas esperamos que um dia nossa horta desperte o interesse em um modo de vida diferente.
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Vocês só plantam árvores frutíferas? A idéia é que essas árvores sirvam para quê?
Isso não é necessariamente verdade. Estamos plantando todo tipo de plantas... Desde pés de tomate até flores. No local que encontramos, já havia algumas árvores frutíferas, sendo a grande maioria de pés de goiaba, e por isso começamos a chamar o lugar de s Goiabeiras. Nós vamos continuar o cuidado para que essas árvores continuem crescendo, mas nos concentramos também nas hortas. Esperamos um dia poder literalmente colher os frutos, e organizar refeições gratuitas pra quem se interessar, principalmente pessoas que estão à margem.
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O dinheiro para comprar mudas sai do bolso de vocês? Ou vocês conseguem mudas de alguma organização? Tem algum tipo de ajuda financeira?
As mudas foram pagas por nós mesmos. Nós acreditamos em idéias como Faça Você Mesmo, e por isso não temos o interesse de procurar ajuda de nenhum tipo fora do nosso coletivo e círculo de amizades. Até agora gastamos pouquíssimo – praticamente nada – na nossa empreitada. Procuramos reaproveitar e reciclar tudo o que é possível. Tanto na hora de plantar, quanto construir. Estamos planejando fazer um sistema de captação de água da chuva com garrafas pet, já que o terreno não tem água nem luz. Além disso, sabemos que o dia que precisarmos de ajuda financeira, nós mesmos podemos organizar um show beneficente de hardcore para levantar fundos. Nós experimentamos fazer nós mesmos, desde música, até plantar comida. Nem sempre conseguimos, mas isso não é motivo suficiente pra desistir.
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Vocês vão ao local em que a árvore será plantada como? Que meio de transporte usam? Isso tem a ver com a idéia do movimento?
Na maior parte das vezes usamos bicicleta ou os nossos próprios pés. Quando é necessário carregar uma quantidade muito grande de ferramentas, ou mesmo muitas mudas de uma vez, pegamos um carro emprestado. Com certeza tem a ver com nossas idéias. Somos ciclistas, e nossa visão de mundo não se limita a jardinagem libertária. Temos envolvimento com várias causas, inclusive participando de Bicicletadas em nossas cidades. Carros são apenas recursos de última instância.
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Alguma vez já foram repreendidos por estar plantando uma árvore num espaço público?
Já fomos repreendidos por andar de skate, por estar na rua depois de escurecer, por tocar música alta, por sermos veganos, por não beber álcool e não usar drogas, por não termos religião, por entrar em propriedades abandonadas, mas esse motivo ainda não entrou para a lista.
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Por que na rua e não no jardim de casa?
Porque não queremos construir nada proprietário. Porque acreditamos em uma cultura livre, e sem sombra de dúvida somos fãs da liberdade. Quanto se planta uma árvore frutífera na rua, você está oferecendo comida de graça para qualquer pessoa. Quando se usa uma área enorme para construir um supermercado, você obriga as pessoas a pagar o que poderia estar sendo produzido coletivamente, e ainda reforça a idéia de que não é possível fazer nada acontecer sem dinheiro.
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Quem participa? Qual o perfil dos participantes?
No Outubro Verde, nosso coletivo, jovens que além de uma visão diferente de mundo, procuram agir de forma crítica, por que estar ciente dos problemas é só o primeiro passo. As ações individuais contam muito no panorama mundial, e por isso assumimos algumas posturas políticas, como o vegetarianismo, a sobriedade, o boicote a grandes corporações, e nos organizamos horizontalmente, de forma apartidária. Baseamos nossas idéias na igualdade e liberdade dos indivíduos.
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Qual a importância de movimentos como o "jardinagem libertária" para a retomada do espaço público pelos cidadãos?
A importância é fundamental. Mas não existe o “jardinagem libertária”, porque não temos liderança, não existe uma agenda a seguir... Não tem carteirinha de sócio. O que existe é a idéia de jardinagem libertária. Um conceito que pode ser adotado por qualquer um, em qualquer lugar, sem pedir licença, sem prestar crédito a ninguém. Frequentemente idéias como essa são veiculadas a movimentos, porque as pessoas ainda não descobriram outras formas de se organizar.Interagir com o meio que se vive – principalmente em grandes centros urbanos – é de extrema importância para se reivindicar outras formas de agir e pensar. O espaço público e o privado se confundem na paranóia da insegurança urbana, e a jardinagem libertária é apenas uma forma de questionar essa relação.
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Movimentos como esse podem reforçar os conceitos de cidadania e de ecologia entre as pessoas?
De que forma?
A publicidade já percebeu que desastres ecológicos são rentáveis, e a única forma de agir que a maioria das pessoas conhece é escolhendo os produtos que compra. A jardinagem libertária é uma tentativa de restabelecer um equilíbrio perdido durante o crescimento urbano. Mesmo esse impacto sendo grande demais, estamos tentando restaurar o contato social e ecológico que perdemos diariamente com um estilo de vida individualista e consumista. Desde a nossa infância somos instruídos e recompensados por ter um comportamento competitivo, e esta é uma atividade que requer uma ação conjunta para ter êxito.
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Esse mesmo movimento existe em outros países? Quais? A linha que se segue é a mesma?
Essa é uma idéia que sempre existiu ao redor de todo o mundo. A muito tempo surgiu uma técnica que foi re-introduzida por Masanobu Fukuoka, conhecida como “bomba de sementes”, que consiste em misturar terra fértil, argila e diversas sementes, em várias pequenas bolas que podem facilmente ser dispersadas em áreas pobres em vegetação. Não importa se hoje a chamamos de jardinagem libertária, guerrilha verde, ou qualquer outro nome, sempre que alguém plantar uma árvore ao invés de pavimentar o chão estará agindo sob os preceitos da jardinagem libertária.
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*Essas respostas são visões particulares do coletivo Outubro Verde. Não necessariamente condizem com o pensamento de outros grupos de Jardinagem Libertária do Brasil e do mundo. Nós do coletivo preferimos nos manter anônimos. Agimos na cidade de Blumenau. Para entrar em contato conosco escreva para coletivooutubroverde@gmail.com.
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Uma dúvida: plantar maconha numa praça é uma ação de jardinagem libertária ou de terrorismo poético?
ResponderExcluirUma dúvida: Sermos malditos por sermos nós mesmos é vida plena ou terrorismo poético?
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