quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

4 -O TEATRO DO OPRIMIDO- Série Coletivos Libertários


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Teatro do Oprimido (TO) é um método teatral que reúne Exercícios, Jogos e Técnicas Teatrais elaboradas pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal. Os seus principais objetivos são a democratização dos meios de produção teatrais, o acesso das camadas sociais menos favorecidas e a transformação da realidade através do diálogo (tal como Paulo Freire pensou a educação) e do teatro. Ao mesmo tempo, traz toda uma nova técnica para a preparação do ator que tem grande repercussão mundial.

A sua origem remete ao Brasil das décadas de 60 e 70, mas o termo é citado textualmente pela primeira vez na obra Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. Este livro reúne uma série de artigos publicados por Boal entre 1962 e 1973, e pela primeira vez sistematiza o corpo de idéias desse teatrólogo.
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Histórico
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No começo dos anos sessenta Boal era diretor do Teatro de Arena de São Paulo. Um dia, durante uma viagem pelo nordeste, estavam apresentando para uma liga camponesa um musical sobre a questão agrária que terminava exortando os sem terras a lutarem e darem o sangue pela terra. Ao final do espetáculo um sem terra convidou o grupo para ir enfrentar os jagunços que tinham desalojado um companheiro deles. O grupo recusou e, neste momento, Boal percebeu que o teatro que realizava dava conselhos que o próprio grupo não era capaz de seguir. A partir de então começou a pensar que o teatro deveria ser um diálogo e não um monólogo.
Até este momento tudo não passava de uma idéia a ser desenvolvida. Somente em 1971 no Brasil, nasceu a primeira técnica do Teatro do Oprimido: o Teatro Jornal. Inicialmente com o objetivo específico de lidar com problemas locais, rapidamente passou a ser usado em todo o país. O Teatro Fórum veio à luz no Peru, em 1973, como parte de um Programa de Alfabetização; hoje é praticado em mais de 70 países. Continuando a crescer, o TO desenvolveu o Teatro Invisível na Argentina, como atividade política, e o Teatro Imagem, para estabelecer um diálogo entre as Nações Indígenas e os descendentes de espanhóis na Colômbia, na Venezuela, no México... Hoje, essas formas são usadas em todos os tipos de diálogos.
Na Europa, o TO se expandiu e veio à luz o Arco-Íris do Desejo — inicialmente para entender problemas psicológicos, mais tarde para criar personagens em quaisquer peças. De volta ao Brasil, nasceu o Teatro Legislativo, para ajudar a transformar o Desejo da população em Lei — o que chegou a acontecer 13 vezes. Agora, o Teatro Subjuntivo está, pouco a pouco, vindo à luz.
O TO era usado por camponeses e operários; depois, por professores e estudantes; agora, também por artistas, trabalhadores sociais, psicoterapeutas, ONGs... Primeiro, em lugares pequenos e quase clandestinos. Agora, nas ruas, escolas, igrejas, sindicatos, teatros regulares, prisões...
Além da arte cênica propriamente, também existe a finalidade política da conscientização, onde o teatro torna-se o veículo para a organização, debate dos problemas, além de possibilitar, com suas técnicas, a formação de sujeitos sociais que possam fazer-se veículo multiplicador da defesa por direitos e cidadania para a comunidade onde o Teatro do Oprimido está a ser aplicado.
Aplicado no Brasil, em parceria com diversas ONGs, como as católicas Pastoral Carcerária e CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), ou movimentos sociais, como o MST, as técnicas de Boal ganharam mundo, sendo suas obras traduzidas em mais de 20 idiomas, e ganhando aplicação por parte de populações oprimidas nas mais diversas comunidades, como recentemente entre os palestinos
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Metodologia
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O Teatro do Oprimido é um método estético que sistematiza Exercícios, Jogos e Técnicas Teatrais que objetivam a desmecanização física e intelectual de seus praticantes, e a democratização do teatro.
O TO parte do princípio de que a linguagem teatral é a linguagem humana que é usada por todas as pessoas no cotidiano. Sendo assim, todos podem desenvolvê-la e fazer teatro. Desta forma, o TO cria condições práticas para que o oprimido se aproprie dos meios de produzir teatro e assim amplie suas possibilidades de expressão. Além de estabelecer uma comunicação direta, ativa e propositiva entre espectadores e atores.
Dentro do sistema proposto por Boal, o treinamento do ator segue uma série de proposições que podem ser aplicadas em conjunto ou mesmo separadamente.
Cumpre ressaltar que todas as técnicas pressupõem a criação de grupos, onde o Teatro do Oprimido terá sua aplicação.
Declaração de princípios da Associação Internacional do Teatro do Oprimido (AITO)
Leia na Integra a Declaração de princípios da Associação Internacional do Teatro do Oprimido (AITO) aqui: [3]
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Teatro Jornal
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Consiste na escolha de uma determinada notícia, publicada no meio impresso, que é discutida pelo grupo, procurando deste modo verificar quais os pontos que eventualmente sofreram censura, quais os interesses por detrás da informação ali contida, como as pessoas descreveriam o fato, etc.
As nove técnicas que integram este exercício foram preparadas como forma de conscientização durante a ditadura militar na qual vivia o Brasil, em 1971 - ano de sua elaboração.
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Teatro Imagem
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Técnica onde se procura transformar em imagens cênicas aquilo que interessa ao grupo, tais como questões sociais (por exemplo: o preconceito racial), sentimentos ou condições que, passando do abstrato ou imaginário para o concreto, pela visualização da apresentação, torna-se real e, portanto, mais assimilável sua compreensão, debate, questionamento.
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Teatro Invisível
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Teatro invisível é uma forma de encenação na qual apenas os atores sabem que de fato há uma encenação. Aqueles que a presenciam devem considerá-la um acontecimento real, seja ele banal ou extraordinário dentro da expectativa onde ocorre, e por isso é impreciso chamá-los “espectador”, que indica o apreciador de um espetáculo que aceita a ficção como realidade sempre consciente desse jogo de faz-de-conta. Para que seja realizável, o teatro invisível ocorre geralmente em espaços públicos ou de ampla circulação, não em um edifício teatral. O “espectador” torna-se participante inconsciente da representação imprevisível. Como os atores não devem revelar a encenação mesmo após o fim da cena, os que a presenciam acabam por julgar e significar o próprio acontecimento e não a performance de sua encenação, o que nega radicalmente as categorias tradicionais do teatro e dificulta a apreciação crítica, além de impossibilitar qualquer estimativa do número de encenações desse tipo, pois várias ou nenhuma podem ocorrer diariamente conforme a interpretação dos acontecimentos.
Por exemplo, o ator pode simular um mendigo numa rua, verificando as reações dos transeuntes que, então, são levados a reagir espontânea e verdadeiramente ao questionamento que se lhe apresenta.
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Teatro-Fórum
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É a principal técnica do Teatro do Oprimido. Um espetáculo baseado em fatos reais, no qual personagens oprimidos e opressores entram em conflito, de forma clara e objetiva, na defesa de seus desejos e interesses. Neste confronto, o oprimido fracassa e o público é convidado a entrar em cena, substituir o Protagonista (o oprimido) e buscar alternativas para o problema encenado.
O Teatro-Fórum busca romper os rituais tradicionais do teatro que reduzem o público ao imobilismo, à passividade. A idéia é o estabelecimento de um diálogo entre palco e platéia, onde os espectadores se auto-ativariam ao entrar em cena para transformar a peça. Em função disso, Boal sugere que no Teatro do Oprimido não há espectadores, mas "espect-atores". Este diálogo é mediado por um "coringa", pessoa que atua como interlocutor entre a peça e a platéia.
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Arco-Íris do Desejo
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“Método Boal de Teatro e Terapia” Um conjunto de técnicas terapêuticas e teatrais, adequadas para a análise de questões interpessoais e/ou individuais.
O teatro torna-se veículo da análise em grupo dos problemas relacionais e pessoais, usado tanto para o conjunto do Teatro do Oprimido e seus propósitos como terapia em instituições para tratamento psiquiátrico.
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Teatro Legislativo
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No Teatro Legislativo, além das intervenções na ação dramática, os espectadores também são estimulados a escreverem propostas de leis, que visem à resolução do problema apresentado. Essas propostas são recolhidas e entregues à Célula Metabolizadora: equipe formada por um especialista no tema encenado, um assessor legislativo e um advogado com experiência na área, cuja função é fazer a "metabolização" das propostas, ou seja, analisá-las e sistematizá-las, para que sejam novamente encaminhadas à platéia para discussão e votação, ao final da apresentação, quando se instaura a Sessão de Teatro Legislativo.
Através dessa iniciativa, até o momento, já foram produzidas doze leis municipais, um decreto legislativo, uma resolução plenária, duas leis estaduais e dois projetos de lei em tramitação, na cidade e no estado do Rio de Janeiro, todas oriundas da interação de grupos populares com a população. Esses resultados demonstram a viabilidade da democratização da política através do teatro, que estimula o exercício da democracia direta e participativa.
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Evolução: a Estética do Oprimido
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As iniciativas de Boal e do CTO-Rio, dentro dos propósitos do Teatro do Oprimido vêm sendo ampliadas constantemente. Assim, integrando o Sistema, está sendo desenvolvida a "Estética do Oprimido". Esta tem por fundamento a certeza de que somos todos melhores do que pensamos ser, capazes de fazer mais do que realizamos, porque todo ser humano é expansivo.
A proposta é promover a expansão da vida intelectual e estética de participantes de Grupos Populares de Teatro do Oprimido, evitando que exercitem apenas a função de ator, que representa personagens no palco. Os integrantes desses grupos são estimulados, através de meios estéticos, a expandirem a capacidade de compreensão do mundo e as possibilidades de transmitirem aos demais membros de suas comunidades - bem como aos de outras - os conhecimentos adquiridos, descobertos, inventados ou re-inventados. (2007).
A Estética do Oprimido baseia-se na idéia de que o Teatro do Oprimido é um Teatro Essencial - no sentido de estar na essência própria de Ser Humano. Trata-se do Teatro que todo ser humano é, por sua capacidade de ver-se agindo, de ser espectador de si próprio. De se separar em ator e espectador para multiplicar a capacidade de entender sua própria ação. O ser humano, diferentemente de todas as outras espécies de animais, é capaz de se ver agindo, de analisar a situação em que se encontra e, como um diretor, se auto-dirigir durante sua própria ação.
Como ator - age.
Como diretor - dirige a ação.
Como figurinista - tenta adequar sua aparência à situação e ao cenário onde vai atuar.
Como dramaturgo - produz o texto conforme a ocasião.
Como ser humano - é capaz de representar a realidade, recriar o real em imagem, para entender sua existência e imaginar sua ação futura.

O Teatro do Oprimido atua neste sentido, estimulando as pessoas a descobrirem o que já são, a revelarem para si próprias que são potência, que, por serem capazes de metaforizar o mundo, ou seja, de representá-lo, são capazes de recriá-lo. O objetivo é que essa descoberta ou re-descoberta, permita que cada um se aproprie do que originalmente é seu: a capacidade de ver-se agindo, de analisar e recriar o real, de imaginar e inventar o futuro.

Para ajudar cada um a descobrir essa potência e capacidade transformadora, promovem-se atividades artísticas em quatro eixos:

PALAVRA: falada/escrita: os participantes produzem poesias, poemas, reflexões: "o que mais me impressionou" (relato sobre situações que impressionam os participantes no dia a dia) "declaração de identidade" (carta para algum interlocutor - conhecido ou não - com descrição do remetente), artigos, contos, além de textos dos espetáculos;
IMAGEM: atividades de artes plásticas, com produção de desenhos, figuras, criação de esculturas a partir de objetos encontrados; fotografia - análise do mundo que nos cerca e, criação de cenas e espetáculos.
SOM: sonoridade: pesquisa sonora, descoberta do potencial da voz, instrumentos - existentes/inventados, música e criação de dança a partir de movimentos da vida cotidiana.
ÉTICA: diálogos/conversação: promoção de encontros com especialistas e promoção de centros de estudos de: filosofia, história, ecologia, economia, política e vida social.

O trabalho da Estética do Oprimido vem sendo desenvolvido de maneira experimental desde 2003, com os integrantes dos Grupos Populares de Teatro do Oprimido coordenados pelo CTO-Rio, no Rio de Janeiro, assim como em workshops internacionais.

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Para saber mais
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Referências
BOAL, Augusto - Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2005. Edição revista;
BOAL, Augusto - "Técnicas Latino-Americanas de teatro popular: uma revolução copernicana ao contrário". São Paulo: Hucitec, 1975.
BOAL, Augusto - "Stop: ces’t magique". Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.
BOAL, Augusto - "O arco-íris do desejo: método Boal de teatro e terapia". Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1990.
BOAL, Augusto - "Teatro legislativo", Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.
BOAL, Augusto - "Jogos para atores e não-atores". Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
BOAL, Augusto - "O teatro como arte marcial". Rio de Janeiro: Garamond, 2003.
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Ligações externas
Centro Teatro do Oprimido - Rio de Janeiro (CTO-RIO)
Associação Internacional do Teatro do Oprimido (AITO)
Casa do Centro de Teatro do Oprimido - Rio de Janeiro
Av. Mem de Sá, 31 - Lapa Rio de Janeiro - RJ • Cep: 20230-150 (21) 2232-5826 / 2215-0503 ctorio@ctorio.org.br
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