Aos Furiosos
Estou, ainda, sob o impacto de Frederica. Os meus olhos estão impregnados dela e o meu nariz nestes últimos dias só reconhece o cheiro dos cuiabanos que passaram por aqui. Inclinei meus sentidos para eles e desta imersão não sairei vivo no que eu era e sim refeito e repleto de brasas que saem da minha boca e protestam contra todas as mesquinharias que nos impedem de realizar um bom teatro. Enfim, mesquinharias que nos impedem. E basta.
.
Vi quatro espetáculos. Quatro estações furiosas. “Encaixotando Shakespeare”, leve e dinâmica como o verão; “Nepal”, onde as folhas parecem cair todo o tempo e uma tristeza de outono me invadiu; “ Apartamento 501” todos recolhidos para contar histórias me reportou a uma noite fria de inverno e, por último, “Frederica”, a primeira no meu coração. A que me tirou o sono. Para mim, a primavera do Fúria. Um jardim repleto de cores, com espinhos que nos furam e parece nos fazer desacreditar, por um instante, na beleza das rosas.
.
.
O que me ligou ao Fúria não foi só o deleite estético. Há algo que falta na minha trajetória teatral que a simples presença deles me preencheu. Mas eles foram embora e me impulsionaram a este compromisso comigo. Ao compromisso com o palco. Única coisa que me completa. A cruz que não cansarei nunca em carregar.
.
Existe neles uma maturidade desprovida de prepotência e por outro lado infantilidades regadas ao compromisso sério de viver somente de teatro. Então, fazem do palco a melhor casa deles, espaço perfeito para realizar todas as fantasias e delas tirar o pão que alimenta a criação. O pão que alimenta o João. O pão que alimenta o Pedro. O pão que alimentará os nascidos dali. E quem come do que vem do Teatro Fúria a ele está devotado. E uma árvore desponta em Cuiabá. Atores brotam dos seus galhos como frutos. Convido todos a comê-los.
.
Meu coração dividiu-se em seis partes e não pulsa mais só em mim e todos aqueles que o tem em suas mãos tem assim a melhor maneira de caminhar na minha estrada, de viver meu palco. Melhor sinônimo agora para coração. Encontros sempre são reformadores. Causam alegrias e se vão embora, claro, causam tristezas.
.
Mas comemos os frutos furiosos e sementes aqui plantadas surgirão mais tarde emolduradas em arte e condimentadas com bastante ousadia. Tudo foi muito bonito. E fica em nossas bocas esse terrível sentimento: a falta do que foi bom. E a esperança de reencontrar-se: o que há de mais belo em ter saudades.
.
Marconi Bispo (Técnico de Artes Cênicas do Sesc Recife)
Recife, algum inverno de 2003. Digo, início das chuvas para nós. Indício da Fúria que nos tomou por aqui
Estou, ainda, sob o impacto de Frederica. Os meus olhos estão impregnados dela e o meu nariz nestes últimos dias só reconhece o cheiro dos cuiabanos que passaram por aqui. Inclinei meus sentidos para eles e desta imersão não sairei vivo no que eu era e sim refeito e repleto de brasas que saem da minha boca e protestam contra todas as mesquinharias que nos impedem de realizar um bom teatro. Enfim, mesquinharias que nos impedem. E basta.
.
Vi quatro espetáculos. Quatro estações furiosas. “Encaixotando Shakespeare”, leve e dinâmica como o verão; “Nepal”, onde as folhas parecem cair todo o tempo e uma tristeza de outono me invadiu; “ Apartamento 501” todos recolhidos para contar histórias me reportou a uma noite fria de inverno e, por último, “Frederica”, a primeira no meu coração. A que me tirou o sono. Para mim, a primavera do Fúria. Um jardim repleto de cores, com espinhos que nos furam e parece nos fazer desacreditar, por um instante, na beleza das rosas.
.
.
O que me ligou ao Fúria não foi só o deleite estético. Há algo que falta na minha trajetória teatral que a simples presença deles me preencheu. Mas eles foram embora e me impulsionaram a este compromisso comigo. Ao compromisso com o palco. Única coisa que me completa. A cruz que não cansarei nunca em carregar.
.
Existe neles uma maturidade desprovida de prepotência e por outro lado infantilidades regadas ao compromisso sério de viver somente de teatro. Então, fazem do palco a melhor casa deles, espaço perfeito para realizar todas as fantasias e delas tirar o pão que alimenta a criação. O pão que alimenta o João. O pão que alimenta o Pedro. O pão que alimentará os nascidos dali. E quem come do que vem do Teatro Fúria a ele está devotado. E uma árvore desponta em Cuiabá. Atores brotam dos seus galhos como frutos. Convido todos a comê-los.
.
Meu coração dividiu-se em seis partes e não pulsa mais só em mim e todos aqueles que o tem em suas mãos tem assim a melhor maneira de caminhar na minha estrada, de viver meu palco. Melhor sinônimo agora para coração. Encontros sempre são reformadores. Causam alegrias e se vão embora, claro, causam tristezas.
.
Mas comemos os frutos furiosos e sementes aqui plantadas surgirão mais tarde emolduradas em arte e condimentadas com bastante ousadia. Tudo foi muito bonito. E fica em nossas bocas esse terrível sentimento: a falta do que foi bom. E a esperança de reencontrar-se: o que há de mais belo em ter saudades.
.
Marconi Bispo (Técnico de Artes Cênicas do Sesc Recife)
Recife, algum inverno de 2003. Digo, início das chuvas para nós. Indício da Fúria que nos tomou por aqui
Nenhum comentário:
Postar um comentário