sábado, 25 de abril de 2009

5º CRÍTICA AO TEATRO FÚRIA E OS INSURRETOS FURIOSOS - MAURÍCIO ARRUDA MENDONÇA


ARMATRUX E FÚRIA: FORMALISMO E SURPRESA -
Crítica feita no FILO - Festival Internacional de Londrina 2002


" Invento para Leonardo" apresentado pelo Grupo de Teatro Armatrux, de Belo Horizonte, e "Nepal", com o Teatro Fúria de Cuiabá, foram espetáculos bastante concorridos no último final de semana. Armatrux trouxe "Invento Para Leonardo", espetáculo com direção de Andréa Caruso, que mostra a busca do grupo por uma linguagem nova, com uma temática centrada na antropologia urbana. Sua estética parece inspirar-se no experimentalismo das vanguardas dos anos 60, incluindo ainda o conceito de descontrução de movimentos físicos. Excessivamente formalista, o espetáculo do Armatrux não foi capaz de fascinar, de tirar o equilíbrio do espectador e transmitir-lhe um segredo aos ouvidos, porque no fim das contas, o problema de todo formalismo é um só: Falta de sangue. E "Invento para Leonardo" não foi excessão. Faltou visceralidade, esquartejamento dionisíaco à direção, à dramaturgia e à atuação dos performers. O que me pareceu mais grave é que o espetáculo comunica pouco. Não porque seja essa a intenção da peça, mas pela flagrante ausência de clareza cênica, de narratividade e de foco sobre tema proposto.


De fato, tem-se a desconfortável sensação de que Invento é um trabalho de laboratório que virou espetáculo - pesquisas corporais flagradas pelos olhos intrusos do público cedo demais - antes mesmo que os atores tivessem tempo de amadurecer o trabalho interno. Por isso, as partituras físicas mostraram-se pouco inspiradas, sem aprofundamento, aquém do limite de cada ator, e, principalmente, sem conseguir dar claro contorno a idéia do que seja esse "não sujeito" urbano, esse ente "des-subjetivado "da pós-modernidade".


Grata surpresa foi "Nepal", texto de Péricles Anarcos. De fato seria exagero afirmar que o espetáculo é ótimo. Porém em "Nepal" vê-se mostras inequívocas de que o Teatro Fúria é um grupo talentoso, com belo futuro no teatro. A moçada de Cuiabá mostrou uma dramaturgia consistente, com bom domínio de carpintaria teatral, linguagem poética e lampejos de inteligência.


Bacana a intervenção do autor na cena, as chamadas do repórter, lindo jogo do mamute e do tiranoussauro. A direção, por sua vez, demonstrou cuidado com o trabalho físico dos atores, com a construção das personagens e com o desenho ds ações das cenas ( o uso da corda, por exemplo). Os atores, bem caracterizados e simpáticos em seus papéis, vão nos ganhando aos poucos com sua simples verdade, envolvimento no jogo teatral e evidente prazer em dizer o texto, fazendo-nos até mesmo acreditar naquela espécie biruta de apocalípse à la Mad Max, de gosto assaz duvidoso.


Em "Nepal" há teatro. É o que importa.

Duas companhias. Dois diferentes caminhos. Do espetáculo do Grupo Teatral Armatrux, pode-se dizer que sua proposta é ousada, mas o espetáculo ainda não é um encontro vital com o público. Falta-lhe as graças de Dionísio. Já o Teatro Fúria, com "Nepal", tem-se a impressão de que o grupo está dando um passo na direção certa. Lembra um pouco a figura do Louco nas cartas de Tarot: um maluco que segue em frente, com um cão sempre latindo às suas costas. Esse cão é Apolo.


Maurício Arruda Mendonça - especial para o JL - segunda -feira 6/5/2002

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