sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

3º - CRÍTICA AO TEATRO FÚRIA E OS INSURRETOS FURIOSOS - ELIANE LISBÔA

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I FESTIVAL BRASILEIRO DE TEATRO DE ITAJAÍ
ESPETÁCULO: ENCAIXOTANDO SHAKESPEARE (MT)
CRÍTICA: ELIANE LISBôA


O TEATRO FALTOU AO ENCONTRO

Uma enorme caixa, com sua frente fechada em muitos quadrados negros por onde vão entrar e sair cabeças, braços e pernas compondo os muitos personagens shakespeareanos e o próprio autor inglês. Um material e proposta curiosos, inesperados, geradores de expectativas.
O espetáculo se segue e somos colocados diretamente no centro da “trama”. Os personagens de Shakespeare se rebelaram contra o autor e o raptaram para exigir mudança em suas histórias. E depois disto, idas e vindas de braços e pernas, cabeças e flores, para descobrirem no final que eles são apenas personagens e portanto não podem ser mudados.
À parte isto, pequenas piadinhas – algumas de evidente mau gosto como a desrespeitosa referência a Daniela Ciccarelli – que aproximam o universo dramático da peça ao pobre humor televisivo.
E nada mais acontece. Nem antes, nem depois, nem durante. Pois se a história é simplória, o espetáculo poderia oferecer-nos a experiência de uma movimentação e gestualidade exigentes, expressivas, mas ali também não encontramos sustentação para nosso desejo de ver teatro. Os gestos são frouxos, sem vida, assim como a expressão facial. E já que tudo se sustenta nestes dois elementos...
E o próprio caixote acaba se transformando num enorme peso sem serventia, pois somos o tempo todo confrontados ao painel dos quadrados negros. Imagina-se que dentro dele o mundo de cruzamento de corpos, na tentativa de compor os que são apresentados ao público, poderia oferecer algum material interessante a se apreciar. Talvez se as paredes laterais fossem derrubadas, um outro espetáculo se configurasse, no confronto entre o que se vê e o que está por trás disso. Mas a caixa está fechada. No máximo explora-se em alguns momentos sua abertura no alto.
De todo modo, se isto talvez oferecesse alguma surpresa e abrisse caminho para o interesse do público, seria também uma saída externa ao jogo proposto. O grupo afirma ter criado um método com sua Caixa Mágica. Mas se método existe, a apresentação do resultado de sua aplicação está longe de poder valorizá-lo, já que há uma fragilidade absoluta, onde o que se percebe é a ausência de teatralidade, na dramaturgia e na atuação.
E no entanto, é fato que a redução do corpo do ator a poucos elementos, obrigando-o a explorar ao máximo o rosto e a voz, e a jogar com outros atores na troca de braços e pernas poderia ser um excelente exercício atoral, garantindo um domínio excelente de seu próprio corpo no jogo cênico, e não só deste espetáculo. Mas para isso é preciso a prática, o exercitar constante, numa construção paciente e cuidadosa, minuciosa, de cada um dos movimentos e falas, o que certamente deveria oferecer um ouro resultado estético.
Não podemos deixar de sentir que o grupo tratou com ligeireza e superficialidade um interessante material que ele próprio gerou. Do espetáculo, fica-nos a sensação de um grupo de amigos queridos que resolvem brincar de teatro. E depois apresentar ao público a brincadeira com a qual, imagina-se, se divertiram muito.

Um comentário:

  1. 1º - A tecnica das Marionetas Humanas está sendo desenvolvida pela Escola do Teatro Fúria e não está acabada. O que se viu em Itajaí não é um método pronto como a crítica dá a entender que nós propagamos. É um método que vamos desenvolver de várias formas no decorrer de nossas vidas.E se a crítica viver para ver, vai compreeder que nossa vida e nossa arte não é engessada.
    2º- A peça trata do livre arbítrio entre nós seres humanos. Do nosso direito de ir e vir que nos é negado por nós mesmos quando por exemplo paralisamos de medo diante de idéias novas que vão contra as idéias defendidas pela opinião pública. As personagens de Shakespeare não têm esse direito porque são personagens. Mas a peça não fala deles! Nem de Shakespeare! Fala do livre arbítrio deles por exemplo, poderem assistir televisão como todo mundo e gostar sim da Daniele Cicarelli, por que não? Não temos todos o livre arbítrio? E não usamos ele pra assistir televisão, ora essa?
    3º - O público gostou a bessa do espetáculo, e se tivessem que escolher entre nós e a crítica, escolheriam certamente a nós.
    4º - a crítica não deve ter gostado porque ela é a cara do Shakespeare: Chata pra caralho, ruá, ruá, ruá!!!

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