(capítulo 4)
O INSONDÁVEL CAMINHO LUMINOSO da lua cheia — meia-noite em meio a Maio em algum Estado americano que começa com "I", tão bidimensional que dificilmente pode-se dizer que possui alguma geografia — os raios tão prementes & tangíveis que precisas traçar as nuances para pensar com palavras.
Está fora de questão escrever para as Crianças Selvagens. Elas pensam em imagens — para eles a prosa é um código ainda não completamente digerido & ossificado, assim como nunca é completamente confiável para nós.
Você pode escrever sobre elas, para que outros que perderam a cadeia prateada possam seguir adiante. Ou escrever por elas, fazendo da ESTÓRIA & do EMBLEMA um processo de sedução dentro de tuas próprias memórias paleolíticas, um bárbaro engodo para a liberdade (caos como o CAOS o entende).
Para esta espécie do outro mundo, ou "terceiro sexo", les enfants sauvages, a fantasia & a Imaginação ainda permanecem indiferenciadas. Um BRINCAR desenfreado: ao único & mesmo tempo a fonte de nossa Arte & de todos os mais raros erotismos da raça.
Abraçar a desordem como manancial de estilo & depósito voluptuoso, ponto fundamental de nossa civilização alienígena & oculta, nossa estética conspiratória, nossa espionagem lunática — esta é a ação (vamos encarar os fatos) tanto de um artista de qualquer tipo como de alguém de dez ou treze anos de idade.
Crianças cujos sentidos clarificados lhes revela uma brilhante feitiçaria de lindo prazer que reflete algo ferino & obsceno na natureza da própria realidade: anarquistas ontológicos naturais, anjos do caos — seus gestos & odores corporais espalham a seu redor uma floresta de presença, uma completa hiléia de presciência com cobras, armas ninja, tartarugas, xamanismo futurista, incrível bagunça, mijo, fantasmas, luz do sol, ejaculações, ovos & ninhos de aves — agressão exultante contra os adultos ranzinzas daqueles Planos Inferiores tão impotentes para englobar tanto epifanias destrutivas quanto criações sob a forma de extravagâncias, frágeis mas suficientemente afiados para fatiar o luar.
E ainda assim os habitantes destas dimensões inferiores de águas revoltas realmente acreditam que controlam os destinos das Crianças Selvagens — & aqui em baixo, tais crenças nocivas efetivamente esculpem a maior parte da substância do cotidiano.
Os únicos que realmente desejam compartilhar o destino daninho daqueles fugitivos selvagens ou guerrilhas menores ao invés de ditá-las, os únicos que podem entender que acalentar & desatrelar são o mesmo ato — estes são em sua maioria artistas, anarquistas, pervertidos, hereges, um bando à parte (tanto um do outro quanto do mundo), ou capazes de se encontrar apenas como devem crianças selvagens, cravando olhares atentos através de uma mesa de jantar enquanto os adultos tagarelam por detrás de suas máscaras.
Muito jovens para estarem em uma gangue de motoqueiros —fracassados, dançarinos de rua, poetas escassamente pubescentes de cidadezinhas planas e perdidas — um milhão de fagulhas caindo dos foguetes de Rimbaud & Mogli — esguios terroristas cujas bombas espalhafatosas são condensadas de amor polimórfico & dos preciosos quinhões de cultura popular — pistoleiros punks sonhando em furar suas orelhas, ciclistas animistas deslizando na penumbra de estanho através de ruas ponteadas por flores acidentais — nudistas ciganos fora de temporada, sorridentes e dissimulados ladrões de totems de poder, escassos trocados & facas com lâmina de pantera — nós os sentimos em todos os lugares — nós publicamos esta oferta para negociar a corrupção de nossa própria lux et gaudium por sua perfeita torpeza gentil.
Compreenda: nossa realização e nossa liberação dependem da deles — não porque nós arremedamos a Família, aqueles "avarentos de amor" que mantêm reféns para um futuro banal, nem o Estado que nos educa para afundar sob o horizonte de eventos de uma "utilidade" tediosa — Não — mas porque nós & eles, os selvagens, somos imagens uns dos outros, unidos & confinados por aquela cadeia prateada que define o âmbito da sensualidade, da transgressão & da visão. Dividimos os mesmos inimigos & nossos meios de fuga triunfal são também os mesmos: um jogo delirante e obssessivo, fortalecido pelo brilho espectral dos lobos & suas crianças.
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