(capítulo 13-Capítulo final)
O QUE ISSO DIZ A VOCÊ não é prosa. Pode ser pendurado no quadro de avisos, mas ainda está vivo & retorcendo-se. Não pretende seduzi-lo, a não ser que você seja de extrema juventude & beleza (anexe uma foto recente).
Hakim Bey mora num decadente hotel chinês onde os proprietários balançam a cabeça de um lado para o outro enquanto lêem os jornais & escutam transmissões estridentes da Ópera de Pequim. O ventilador de teto gira como um dervixe indolente – suor pinga sobre a página – o cafetã do poeta está encardido, seus cinzeiros derramam cinzas no tapete – seus monólogos parecem desconexos & levemente sinistros – por trás das janelas fechadas, o gueto desaparece entre palmeiras, o ingênuo oceano azul, a filosofia do tropicalismo.
Numa estrada em algum lugar a leste de Baltimore, você passa por um trailer Airstream, & enxerga uma grande placa plantada na grama: LEITURAS ESPIRITUAIS, com a imagem de uma rude mão negra sobre um fundo vermelho. Lá dentro, você encontra livros sobre sonhos & numerologia, panfletos sobre vodu & macumba, revistas de nudismo velhas & empoeiradas, um pilha de Boy´s Life, tratados sobre briga de galos... & este livro, Caos. Como palavras ditas num sonho, portentosas, evanescentes, transformando-se em perfumes, pássaros, cores, música esquecida.
Este livro se mantém a distância por uma certa impassibilidade em sua superfície, quase que visível através de um vidro. Ele não abana o rabo & não grunhe, mas morde & estraga a mobília. Ele não tem um número ISBN & não o quer como discípulo, mas pode seqüestrar seus filhos.
Este livro é nervoso como o café ou a malária – ele cria, entre si & seus leitores, uma rede de desertores & outsiders -mas é tão cara-de-pau & literal que praticamente se codifica – fuma a si próprio em estupor.
Uma máscara, uma automitologia, um mapa sem nome de lugar algum – hirto como uma pintura egípcia que, no entanto, logra acariciar o rosto de alguém &, de repente, encontra-se na rua, num corpo, envolvido em luz, andando, acordado, quase satisfeito.
Nova York, 1° de maio a 4 de julho de 1984
O QUE ISSO DIZ A VOCÊ não é prosa. Pode ser pendurado no quadro de avisos, mas ainda está vivo & retorcendo-se. Não pretende seduzi-lo, a não ser que você seja de extrema juventude & beleza (anexe uma foto recente).
Hakim Bey mora num decadente hotel chinês onde os proprietários balançam a cabeça de um lado para o outro enquanto lêem os jornais & escutam transmissões estridentes da Ópera de Pequim. O ventilador de teto gira como um dervixe indolente – suor pinga sobre a página – o cafetã do poeta está encardido, seus cinzeiros derramam cinzas no tapete – seus monólogos parecem desconexos & levemente sinistros – por trás das janelas fechadas, o gueto desaparece entre palmeiras, o ingênuo oceano azul, a filosofia do tropicalismo.
Numa estrada em algum lugar a leste de Baltimore, você passa por um trailer Airstream, & enxerga uma grande placa plantada na grama: LEITURAS ESPIRITUAIS, com a imagem de uma rude mão negra sobre um fundo vermelho. Lá dentro, você encontra livros sobre sonhos & numerologia, panfletos sobre vodu & macumba, revistas de nudismo velhas & empoeiradas, um pilha de Boy´s Life, tratados sobre briga de galos... & este livro, Caos. Como palavras ditas num sonho, portentosas, evanescentes, transformando-se em perfumes, pássaros, cores, música esquecida.
Este livro se mantém a distância por uma certa impassibilidade em sua superfície, quase que visível através de um vidro. Ele não abana o rabo & não grunhe, mas morde & estraga a mobília. Ele não tem um número ISBN & não o quer como discípulo, mas pode seqüestrar seus filhos.
Este livro é nervoso como o café ou a malária – ele cria, entre si & seus leitores, uma rede de desertores & outsiders -mas é tão cara-de-pau & literal que praticamente se codifica – fuma a si próprio em estupor.
Uma máscara, uma automitologia, um mapa sem nome de lugar algum – hirto como uma pintura egípcia que, no entanto, logra acariciar o rosto de alguém &, de repente, encontra-se na rua, num corpo, envolvido em luz, andando, acordado, quase satisfeito.
Nova York, 1° de maio a 4 de julho de 1984
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